quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Portugal - o País dos Doutores

Porque é que em Portugal se utilizam em demasia títulos académicos para designar uma pessoa?
É com muito interesse que tenho observado a maneira como o nosso País se tem vindo a aperfeiçoar no que toca ao sector dos “Doutores” actuais. Já repararam que hoje em dia uma costureira passou a ser uma modista? E um pintor um designer gráfico? E que cada vez que passamos na rua muitos dos cumprimentos são: “Bom dia Doutor! Como está Doutor?”

Será só impressão minha ou as próprias pessoas criaram a tendência de se intitularem de algo mais do que muitas vezes são? Quantas e quantas vezes já nos deparámos com a Dona Aurora da mercearia que faz questão de dizer que o filho é Doutor e damos connosco a ponderar se este chegou realmente a meter os pés numa faculdade? Para quê tanta necessidade de nos superiorizarmos perante os outros? Afinal de contas, não somos todos feitos do mesmo? Não iremos todos ter o mesmo fim? Então para quê leiloar as pessoas numa espécie de quem dá mais?

Enquanto escrevo interrogo-me onde andarão os pintores “normais” e as costureiras de antigamente. Acho que sinto falta dos tempos em que cada profissão era um prestígio e tínhamos a noção de que um País só de Doutores não se governava. Bem sabemos que o ensino está bastante facilitado e que as novas oportunidades conseguiram o milagre do nada aprender, mas escolaridade a mais ter. O facto é que hoje em dia esquecemos as profissões antigas como o sapateiro e achamos que basta sermos todos Senhores Doutores para a vida ser bem melhor e prestigiada. Porém não nos podemos esquecer que até um “Doutor” precisa dos sapatos arranjados! E isso não se aprende nem na faculdade nem nas novas oportunidades.