segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Latidos de esperança




A Apaac, uma Associação de Protecção dos Animais Abandonados do Cartaxo, criada a 14 de Maio de 1990, dedica-se à defesa e ao bem-estar dos animais abandonados, silenciando o mito segundo o qual todos os canis são lugares medonhos onde os animais, fechados numa jaula minúscula, esperam dias e dias por um dono que os libertará daquela prisão. Além da defesa e da preservação da vida animal, esta associação sem fins lucrativos promove o respeito pelos animais e desempenha também funções sociais no campo higieno-sanitário.

A recepção é feita por um porteiro de quatro patas, o Taso, um Doberman, em convalescença após uma terceira operação. Vários guias sorridentes dirigem-se às boxes, porém, são maioritariamente as crianças que se dedicam, voluntariamente, aos animais aqui hospedados.

A visita guiada é pautada pela amabilidade de todos os que aqui trabalham e pela docilidade dos animais bem tratados. Na área delimitada do canil, coabitam cães de várias raças, cores, sexo e tamanho. Os olhos que nos observam escondem uma desilusão, uma história triste, que todos aqui querem ajudar a esquecer, alimentando a esperança de que um dia serão felizes com uma nova família.

Ao conhecermos a área, deparamo-nos com Maria, uma voluntária da Apaac com apenas 10 anos de idade que, além da alimentação dos animais e da limpeza do canil, diz existirem outras tarefas: «ajudar em tratamentos, ajudar em campanhas de adopção, na angariação de donativos». Satisfeita por poder ajudar estes animais, Maria, entusiasmada com o seu trabalho conta-nos a história de Nina, uma das cadelas do abrigo da Apaac.

Já abandonada em tempos, fora adoptada por uma senhora do Cartaxo que vivia sozinha que lhe daria afecto e o conforto de um lar mas, após uma doença, essa senhora viria a falecer, deixando a Nina, mais uma vez, sozinha: «Há até quem diga que esta ficou estática no quarto da senhora, ficando presente ao lado da cama, como se tivesse esperança de que ela, a pessoa que a amou, voltasse de novo para junto de si».

A história da Maria é marcada pelos passos de outras crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos, que se juntam; cada uma desempenha a sua tarefa sem sequer perguntar o que é preciso fazer, pois, já todos sabem como as coisas funcionam.

Ao cair da noite, os guias de palmo e meio deslocam-se até ao secretariado onde, mais uma vez, são recebidos por um enorme gato siamês que rebola no chão como que a dar-lhes as boas-vindas. As saudações deste anfitrião são acompanhadas pelas do Presidente da Associação, Veladimiro Elvas, que, durante a visita às três salas do secretariado (gabinete, sala de reuniões e sala que serve de área de sensibilização), se prontificou a ajudar no que fosse necessário.

Explicou ainda que a Apaac recebe visitas de estudo e reúne grupos de crianças com o intuito de as sensibilizar na protecção dos animais. São visíveis inúmeros desenhos feitos pelas mesmas e alguns artigos de jornal. De todos os artigos e desenhos colados no placar, destaca-se um bastante simples, o desenho da “Rita” onde entre um cão e flores, se pode ler o seguinte: «Por favor não abandonem os animais, se não os querem, deixem-nos no canil».

Veladimiro acrescenta que «muitas das crianças que nos visitam, ficam tão sensibilizadas, que dias depois vêm cá voluntariar-se». E isso é um aspecto fundamental para a Apaac, que acredita que a chamada de atenção das crianças suscita a formação de adultos conscientes, e o reflexo do que Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, afirmara em tempos: «A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem».

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O verdadeiro animal

Quem não gosta de animais não pode ter bom carácter. Como é possível que não se goste daqueles que nos protegem, nos mimam e acima de tudo, que não nos julgam sempre que a vida não nos sorri?

Mahatma Gandhi proferiu um dia que “ a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais são tratados." Perante esta afirmação e tendo em conta o facto de cada vez existirem mais abandonos e maus tratos aos nossos amigos de quatro patas, eu diria que a nação (na sua maioria) tem estado um pouco desatenta no que toca ao tratamento dos mesmos.

Na realidade todo o sistema me parece desatento e adormecido no que diz respeito ao assunto da defesa dos animais. Não há leis que os protejam e as que existem (sejamos realistas) não funcionam. É por isso que cada vez mais defendo a ideia de que nem toda a gente deveria estar apto a ter um animal ao seu cuidado.

Aguardo ansiosamente pelo dia em que existirão penas bem pesadas a todos os que os maltratem, abandonem e os utilizem para fins menos próprios (como é o caso das lutas). Aguardo também pelo dia em que as pessoas terão que passar por testes psicológicos, antes de adoptarem um amigo para toda a vida.

De dia para dia aumentam os casos de abandonos, de maus tratos e até de muitos donos que levam o animal para o canil pelas suas próprias mãos e que, quando confrontados com o porquê de tal atitude, respondem simplesmente: “ Já não o quero”.

Cada vez mais as pessoas tomam os animais como objectos descartáveis, por algo que é muito engraçado em pequeno, mas que ao crescer começa a ocupar espaço, a comer mais e claro, deixa de ser uma graça para passar a ser um estorvo.

Lamento que estas pessoas não conheçam o caso da Nina, que permaneceu ao lado da cama da dona desde que esta adoeceu até que partiu, ou até do Golias, que mesmo depois de ter sido amarrado a uma árvore e deixado num pinhal pelo próprio dono, conseguiu aparecer à porta da sua casa meses depois e ainda teve a bondade de, depois de tudo o que este lhe fez, saltar para o seu colo, como que a perdoá-lo.

Finalizo então com a seguinte questão: quem são os verdadeiros “animais” aqui? Quem demonstra diariamente ser irracional e não padecer de remorsos? Não deveria o termo “animal” ser aplicado a nós, supostos humanos racionais, que nos desenvencilhamos destes seres só porque estes crescem de mais e passam a ser um estorvo para nós? Deixo ao vosso critério.