sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rotulados

Quando escolhemos a nossa profissão, fazemo-lo por vários motivos: ou porque gostamos e é o que sempre sonhámos fazer, ou porque é o que dá dinheiro, ou porque é o que tem mais saída no mercado de trabalho.

Todavia esquecemo-nos que ao escolhermos o nosso futuro profissional, ficamos rotulados. Assim, o David mecânico será sempre mecânico e engane-se quem pensa que este tem folgas (isso é um mito).

Há profissões onde se torna complicado separar a pessoa (como um simples individuo) do seu trabalho diário. Que o diga o Manuel electricista que sempre que sai aos fins-de-semana, leva com um ou dois indivíduos que aproveitam para saber se a campainha lá de casa tem arranjo, ou a Ana, que amaldiçoa o dia em que tirou fisioterapia e que mesmo fora do local e horário de trabalho é contemplada com pedidos de massagens.

Quem também sofre com este tipo de situações é o Vasco, que como é consultor financeiro, leva com os amigos lá em casa a sondarem-no se há ou não hipóteses de obterem um crédito para aquela mota nova que tanto desejam.

Contudo, de todas as profissões sem folga, há um que se destaca e que não se consegue abstrair minimamente da profissão que escolheu, nem em dias de folga! O médico. Sabemos bem que médico que é médico não tem descanso.

Médico que é médico não se livra de sair para ir jantar fora e levar com um amigo ou conhecido, que entre o “Olá, como vai a vida?” se sai com um: “Oh Doutor, agora apareceram-me aqui umas dores na zona lombar. O que será? Que me aconselha?”

Porque será que nos é difícil focar somente na pessoa e esquecer o que esta faz? Porque será tão complicado conseguirmos falar com o José mecânico, sem aproveitar para saber quanto custam umas pastilhas novas para o carro?

Às vezes torna-se difícil perceber que tanto o Manuel electricista, como a Ana fisioterapeuta também têm as suas folgas e que, fora do horário de trabalho, tudo o que desejam é ser simplesmente eles próprios, sem conselhos sobre campainhas ou pedidos de massagens.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A síndrome do Tarzan

Todos temos em nós, um ser que grita, gesticula e pronuncia as palavras pausadamente sempre que se depara com alguém de outra nacionalidade.

É inato, senão vejamos o seguinte exemplo: Entramos numa loja Chinesa com o intuito de pedir uma carteira, dirigimo-nos ao empregado (por sua vez, Chinês) e o que fazemos?

a) Pedimos a dita carteira;

b) Olhamos para o Chinês e (aumentando o volume da voz) perguntamos: “tem car--tei-ras?”

c) Deduzimos à partida que o Chinês não sabe o que isso é e procuramos nós;

Por mais que muitas pessoas possam afirmar que escolheriam a alínea A ou C, a verdade é que todos sabemos que a resposta correcta seria a B. Todos nós já passámos por isso.

Todos nós já nos dirigimos a alguém de outra nacionalidade e, no caso de não dominarmos a sua língua, optamos por falar a nossa, mas mais pausadamente (não vá o estrangeiro ter alguma dificuldade de compreensão e assim ajudamo-lo falando o mais devagar possível), gritando (não vá ele ter algum problema de audição) e gesticulando (não vá o dito cujo desconhecer a leitura dos lábios e assim guia-se pelos gestos).

No fundo esperamos que quanto mais devagar conseguirmos pronunciar a palavra, mais probabilidades existam para que este a perceba com sucesso. E não é que ele percebe?
Percebe sim.

Percebe a figura de Tarzan que fazemos, pois tal como o próprio diria: “Eu Tarzan, tu Jane”, também nós nos reduzimos ao papel de um Tarzan moderno que ao ver-se perante outra “espécie” solta um: “Tu ter Carteiras?”

O facto mais curioso, é que quando vamos para fora do nosso País, não temos outra hipótese senão aprender a língua estrangeira. Ora bolas! Nós, que somos Portugueses tão simpáticos e que até nos damos ao trabalho de falar devagar e gesticular, descobrimos afinal, que lá fora não existe a síndrome do Tarzan. Afinal esta é “made in Portugal”.