segunda-feira, 21 de março de 2011

Fetiche masculino

Porque é que a maioria dos homens gosta de se fantasiar de mulher no carnaval?
Carnaval que é carnaval tem de ter homens mascarados de mulher. Nesse dia é vê-los de mini-saias, collants de vidro e até rendadas, sapatos de salto alto e claro, o belo do top a mostrar os pêlos do umbigo.

Tal fetiche masculino remonta-me para uma conversa que tive em tempos com um simpático taxista, que enquanto conversava comigo a propósito de (segundo ele), as miúdas de agora trocarem de companheiro como quem troca de meias, se sai com um: “Fazem elas bem! Eu cá se fosse mulher, era uma grande maluca”.

Ao ouvir isto, lembrei-me¬¬ das vezes em que já ouvi este tipo de palavras proferidas pelo sexo masculino – a tão famosa frase: “ se eu fosse mulher era uma grande maluca”.

Espanta-me que muitos dos homens que o digam, tenham filhas e no entanto não desejam que as mesmas partilhem de tal ideologia, não vá a maluquice pegar moda e as miúdas começarem a gostar.

Também me fascina o facto de, uma vez questionados, a maioria dos homens afirmar que não tenciona casar com as ditas malucas mas sim, com alguém mais respeitável e que dê para apresentar aos pais sem indícios de mínima represália.

Isto leva-me a pensar: Mau! Então se eles fossem mulheres eram umas grandes malucas mas, no entanto, sendo eles homens só querem as ditas malucas para dar umas voltinhas e não para uma vida a longo prazo?

Há algo aqui não bate certo. De qualquer forma, tranquiliza-me saber que estes fetiches não passam disso mesmo, ou então as “certinhas” com quem casar entrariam em vias de extinção.

domingo, 6 de março de 2011

Época de pré folia

Em plena rua de Santarém, são várias as crianças que desfilam exibindo as suas máscaras. Patos, tigres, os habituais palhaços, vikings e até mesmo polícias, são alguns dos disfarces que podem ser vistos enquanto estes palmo e meio de 3, 4 e 5 anos desfilam.

Embora ainda não seja o dia oficial de carnaval, no caso das escolas e jardins-de-infância este desfile de pré festividade anuncia-se sempre dias antes.
Há cor espalhada por todo o lado tornando a cidade num género de paleta de tons coloridos, disposta a alegrar o dia e as caras que curiosamente observam “os mascarados”.

A diversidade é tanta que torna-se difícil de admirar detalhadamente um só disfarce. Que o diga uma das educadoras de infância, que, apesar do seu ar cansado ainda arranja tempo e fôlego para organizar os seus meninos em pleno desfile. Ora recolhe um viking, ora chama um pato, ora volta a formar os pares, gritando para que todos façam o “comboio”. O grito é quase surdo, ou não fosse o facto de a algazarra atenuar qualquer outro tipo de som que não o dos apitos e cornetas carnavalescas.

Alzira Dias, uma das comerciais que observa o aparato, salienta que “ é uma graça ver estes pequenos tão felizes com algo que para nós é um simples desfile de carnaval”. Já António Matias, que observa o mesmo de um sítio mais recatado, ressalta que “ este desfile é uma tradição e é bom que esta não se perca”, apontando seguidamente orgulhoso para uma das crianças disfarçada de polícia e dizendo com os olhos brilhantes, “ é a minha netinha”.

Ao longo das ruas cada mascarado desfila deixando a sua imaginação fluir de acordo com o disfarce que exibe. Através dos variados disfarces, é perceptível que o viking faz questão de exibir a sua barba postiça, possivelmente achando que esta impõe respeito e medo ao adversário, o pato por sua vez emite o som característico enquanto marcha e os polícias tornam-se pequenas autoridades a brotarem do interior das suas fardas.

O desfile segue pelas ruas, havendo pausas para as tradicionais fotos. Finaliza em frente da Igreja da Graça, em pleno centro histórico da cidade. É aqui, que a vivacidade inicial dá lugar a birras, queixumes e vários danos na maioria dos disfarces. Um dos “patos” caminha agora sem o bico de cartolina que até aqui o caracterizava.

Sentado na escadaria da Igreja, de braços cruzados e avistando o vazio, está um dos vikings sem o seu chapéu. O motivo de tal sossego deve-se ao facto de ter sido repreendido pela sua educadora. Ao olharmos para o ar zangado da mesma é fácil perceber o motivo. Esta encontra-se com o chapéu do pequeno viking na mão, repleto de mazelas e sujidade.

Passados cinco minutos o pequeno, ainda de braços cruzados, altera a sua expressão e o seu amuo desaparece como que por magia. Levanta-se ao ver o sinal que a educadora lhe faz e depressa se junta ao seu par, para que todas as crianças ali presentes, se possam distribuir ao longo da escadaria e tirar a fotografia final.

Ainda a assumirem as suas posições de modo a que os pequenos mascarados se mantenham sossegados, estão as restantes educadoras e auxiliares, que demonstram bastante calma e paciência. Helena Dias que trabalha como educadora a apenas dois anos, comenta com uma das auxiliares que “ é sempre difícil manter estas crianças calmas e serenas, mas nestas épocas, o esforço para tal ainda é mais árduo”.

São vários os fotógrafos que cercam a Igreja. Cada um deles tenta a todo o custo encontrar o melhor ângulo para que a folia fique bem registada. Um dos destacados para eternizar tal momento, após ter descoberto o seu ângulo ideal, ainda tem tempo para voltar atrás e ir buscar um boné de polícia que voa da cabeça de uma das crianças.

Os flashes começam a ser disparados. Focam não só sorrisos de contentamento, como também algumas bocas abertas denunciando cansaço. E como Carnaval que é Carnaval não existe sem música, educadoras e crianças presenteiam Santarém cantarolando o seguinte, “ os três palhacinhos não querem fazer mal, só querem brincar porque é Carnaval”.

No final da actuação sucedem-se os aplausos que parecem não ter fim. É de entre este “público” que surgem avós, mães e pais comovidos com a prestação das suas pequenas estrelas.

A confusão e a multidão que ali se juntou começam a esmorecer a pouco e pouco. O largo da Igreja fica assim desimpedido e tudo volta ao normal. Restam somente as serpentinas e os balões para relembrar que o Carnaval está a chegar.