domingo, 8 de dezembro de 2013

Espécies de Pais


      Os pais estão em todo o lado e como tal, tornaram-se comuns aos nossos olhos. No entanto, há alturas em que nos apercebemos de que até nós, humanos, muitas vezes nos dividimos em espécies qual national geographic e os pais não são excepção! Esta semana tive a prova de que existem algumas espécies por aí espalhadas e acreditem, não foi necessário ir investigar para uma selva. Eles estão perto e andam por aí (mais propriamente nos shoppings).

Espécies de Pais:

O pai tio - o pai que trata o filho por você e que assume um ar tio chic ao fazê-lo. As expressões mais comuns são: " Venha cá Salvador; diga à mamã para lhe limpar a boca";

O pai caridoso - O que não está com meias medidas e, em vez de gastar saliva a avisar o miúdo, passa logo para a distribuição de galhêtas. Não existe nenhuma expressão comum uma vez que este pai não fala, age;

O pai que compra paz - o que quer andar à vontade no shopping nem que, para isso, tenha que tirar 5 euros da carteira e dar ao filho para que este vá às gomas e lhe dê paz pelo menos uns 10 minutos. A expressão mais comum é: " Epa, ó Diogo, toma lá 5 euros e não me chateies!";

O pai fotocópia A3 e A4 - O que passeia os miúdos vestidos de igual, independentemente de um ter 16 e o outro 4 anos de idade ( aqui também se inclui a espécie de pai que se veste a fazer pandan com o filho). Não há expressão comum. É ver para crer;

O pai 3 chances - o que deixa o filho andar à vontade mas que o chama constantemente e ameaça que à terceira chamada negligenciada vai desatar ao estalo. A expressão mais comum é: " Pedro 1....Pedro 2....Pedro 3!!!! VAIS LEVAR!";

O pai brincalhão - o que brinca com os filhos e adora agarrá-los pelos braços e girá-los até eles não conseguirem andar a direito depois de tantas voltas. Não há expressão comum mas são fáceis de identificar. Basicamente são aqueles pais que estão perto de alguma criança desnorteada e prestes a vomitar;

O pai btt - o que pensa que um carrinho de criança é um todo o terreno e, assim sendo, decide arriscar umas manobras perigosas enquanto dá a volta pelos corredores do shopping. Embora também não tenham uma expressão comum, são fáceis de identificar pelas mesmas razões do tópico anterior.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Impertinência

Alzinda Reis encontrava-se na sala de espera do hospital. Apesar dos seus 50 anos, exibia uma frescura característica de 30. O cabeleireiro era a sua segunda casa e não havia um único dia em que ela ousasse ter um cabelo fora de sítio. À sua frente passou uma jovem que não devia ter mais de 20 anos.

Era esguia como uma enguia e apresentava um ar despreocupado que assumia um significado maior ao repararmos nos 7 piercings espalhados pela cara e nas 3 tatuagens que pareciam teimar em saltar-lhe do braço. Parecia atrasada para algo e, sem parar a correria, entrou pelo interior do hospital como se este lhe pertencesse. Que impertinência! – pensou Alzinda.

Durante as restantes horas não conseguiu parar de tecer criticas à jovem que vira passar e de, inclusive, pensar num saco de roupa usada que tinha lá por casa e que havia amontoado para dar aos pobres. Imaginou como uma ou outra peça poderia milagrosamente tapar as tatuagens horríveis da jovem e claro, dar-lhe um ar mais limpo.

Enquanto isto, o megafone da sala de espera assumia uma voz rouca que, vagarosamente, ia chamando os pacientes para o interior do consultório. Alzinda, que já ali padecia há cerca de 3 horas e já mal se lembrava do que ali fora fazer, ouviu soar (finalmente ) o seu nome.

Já no corredor, uma das enfermeiras indicou-lhe o caminho até ao consultório e qual o seu espanto quando, ao entrar, se depara com a jovem que outrora passou por si numa correria desmedida. O seu ar de confusão foi tal que, se não fosse o pormenor de ter o cabelo impecavelmente no sitio, com certeza lhe teriam saltado um ou outro do travessão e ficado tão hirtos quanto ela.

Não se sabe ao certo o que se passou no interior do consultório mas consta-se que assim que Alzinda percebeu que a jovem a quem outrora teceu críticas seria a sua médica, saiu tão corada como uma maçã da toscana e, sem emitir uma única palavra, desapareceu do mesmo sem deixar rasto. Terá ficado a jovem médica a pensar: “Que impertinência?”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Michel português


Michel que é michel gosta de vir de férias para Portugal e fingir que domina bem a língua Francesa.

Michel que é michel fala em francês excepto naquelas alturas em que lhe chega a mostarda ao nariz e aí sim, é vê-lo a recitar palavrões em português sem qualquer controlo.

Mas afinal, o que é um michel? Um michel é um português que decidiu tentar a sua vida em França e, sempre que vem de férias para Portugal, faz questão de mostrar o seu novo vocabulário a toda a aldeia.

Todos nós temos um michel na nossa vida e, embora não esteja a generalizá-los, o facto é que a maioria gosta de se fazer passar por franciú e nem sempre a coisa corre bem.

Peço desculpa a todos os michéis mais sensíveis mas o facto é que muitas vezes faziam melhor figura se falassem a vossa língua materna ( neste caso o português).
O vocabulário de que vos falo, nunca é muito grande mas, acreditem que os próprios michéis se espantam com o que conseguem construir com expressões básicas como: merci, s’arrête, oui, je suis portugaise, etc.

No entanto, apesar de os michéis tentarem transmitir alguma credibilidade com o francês (mal falado) o facto é que há coisas que não nos são inatas e, como tal, a veia portuguesa salta à vista.

É por isso que muitas vezes damos connosco num café ao lado de um michel e ouvimos um: “ S’arrête Amélie! Vous allez tomber… Ah porra! Já caíste filha da mãe!”.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Das duas, uma

Na passada semana fomos surpreendidos pela excêntrica notícia (e digo isto porque não é de todo normal) de que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho viajou até Bruxelas num voo de classe económica.

Apesar de alguma contestação por parte de certos indivíduos (que afirmavam que tal atitude não passava de um golpe de publicidade), o facto é que há quem diga que é a intenção que conta e, caso assim seja, não há dúvidas de que Passos Coelho deu o exemplo.

No entanto, dias depois, assistimos a uma certa contradição que dizia que afinal, a viagem de Pedro Passos Coelho a Bruxelas em classe económica, pode não ter representado qualquer poupança para os cofres do Estado, uma vez que é prática corrente os ministros e secretários de estados não pagarem à TAP o bilhete nas deslocações oficiais.

O que nos leva a ponderar se afinal a Tap estará assim tão mal como consta mas, adiante. O facto é que depois de vermos o exemplo de Passos, muitos dos que disseram outrora que a medida eficaz seria precisamente a poupança, depressa sentiram uma necessidade inexplicável de se revoltarem com tal acto do senhor Passos (tendência humana tão comum) e decidiram que “ ah e tal, afinal a viagem era de borla de qualquer das formas e, como tal, esqueçam o exemplo dado pelo senhor primeiro-ministro!”

Há quem diga que Portugal não anda para a frente pois nunca estamos satisfeitos com nada. Simplesmente perdemos a fé na política e a ideia do que esta representa, está cada vez mais
além do que desejamos. Mas, saberemos nós o que desejamos?

Afinal de contas, nunca estamos satisfeitos com que medidas forem! Já me questiono se o mal será do governo ou dos próprios portugueses. Das duas, uma.

sábado, 18 de junho de 2011

O que comer?

Não como aves, porque fiquei com medo da gripe das aves, não como vaca porque ouvi dizer que a doença das vacas loucas ainda poderia estar alerta, não como peixe porque este pode estar contaminado e agora também não como saladas devido à E. Coli. Então, o que como?

Todos os anos (ou quase todos) surge um vírus ou uma doença nova que nos faz sair da monotonia em que estamos e nos deixa a pensar que se isto continua assim, um dia nem saberemos o que comer.

Ora aparece a gripe das aves, ora surgem as vacas loucas, ora o peixe fica contaminado com os despejos poluentes nas águas e, como se não fosse suficiente, eis que agora surge a E. Coli – um dos microrganismos que habita de forma natural a flora microbiana do trato intestinal de humanos e da maioria dos animais.

A verdade é que, passado um mês, ainda não se sabem causas mas sabe-se que já morreram mais de 30 pessoas, sendo que os prejuízos são na ordem das centenas de milhões de euros - a Comissão Europeia acha que 150, os espanhóis crêem que o número é demasiado baixo porque só cobre 30% dos prejuízos dos agricultores.

Se já estávamos desconfiados do frango, da vaca e do peixe, agora junta-se a salada (especialmente se tiver rebentos de soja e pepino). De resto, ninguém sabe sequer se são os vegetais que são os culpados - há quem defenda também que é preciso procurar nos animais, uma vez que é neles que vive a bactéria.

No entanto, isto leva-nos a reflectir que se tal se mantiver, qualquer dia toda a comida é feita em fábricas devidamente desinfectadas, teremos uma sociedade de comida enlatada e plastificada contudo, nunca livre de bactérias.

Se não aparecerem na comida, hão-de vir de outro lado (ou não fossem elas uma boa fonte de rendimento para a indústria farmacêutica).

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Idade Média? Sim, por favor!

Nos últimos dias foram várias as noticias que nos chamaram a atenção no que diz respeito à violência entre adolescentes. Primeiro, foram as imagens de uma menina de 13 anos a ser agredida selvaticamente por outras duas jovens de 15 e 16 anos.
Dias depois desta triste notícia surge outra: o caso de uma jovem de 17 anos que esfaqueou a amiga com um x-acto, alegadamente por causa de uma discussão em torno de um telemóvel.

O que me leva a pensar: “Mas o que se passa com estes miúdos de agora?” Palpita-me que afinal, a geração rasca não é a minha mas sim esta que se aproxima.

Continuando no caso da agressão à menina de 13 anos, é de referir que, como se não bastasse tal acto de desumanidade a que esta foi sujeita, ainda passou pela humilhação de ver o vídeo exposto numa rede social – facebook. Ao que parece, existia um outro jovem, de 18 anos, que decidiu filmar a cena e divulgar via internet (como se tal acontecimento fosse algo relativamente lúdico de se ver).

Contudo, se até aqui dizíamos mal dos nossos juízes e nos perguntávamos qual a função dos mesmos, uma vez que todos os criminosos presentes a tribunal, são libertados, eis que aparece o juiz Carlos Alexandre que, protagonizou a decisão inédita de aplicar a prisão preventiva à jovem de 16 anos, e ao alegado autor das filmagens.

E aqui penso que todos concordamos que tais medidas foram muito bem aplicadas pois, tento acreditar que nenhum de nós gostasse de ver aquelas imagens chocantes tendo como vítima um filho nosso, um neto ou até mesmo um amigo.

Porém, neste caso, alem da violência a que fomos expostos através das imagens divulgadas pelos meios de comunicação social, o que mais me tirou o sono foi o comunicado que o Bastonário da Ordem dos Advogados deu recentemente, onde (imagine-se só) criticou a aplicação de prisão preventiva aos dois jovens envolvidos no caso, considerando tratar-se de uma medida de um sistema judicial "da Idade Média".

Idade Média Senhor Bastonário? Quem nos dera! Pelo menos na Idade Média, os crimes praticados eram punidos. Ai como eu gostava que a Idade Média voltasse nalguns casos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

E o povo pá?

Já dizia o grande Zeca Afonso que “ o Povo é quem mais ordena” e como tal, foi graças ao povo que os Homens da Luta foram representar Portugal na Eurovisão.

“A Luta é Alegria” pode ter posto muita gente bem-disposta e a dançar mas, alcançou uma pontuação débil de apenas 22 pontos, acabando por confirmar a contestação sentida desde o inicio entre os euro fãs nacionais.

A ida de Neto e Falâncio ao festival foi bastante contestada (o que é irónico uma vez que fomos “nós” a votar neles). A partir do momento em que foram escolhidos para representar Portugal na Eurovisão, que os apupos não pararam.

Surgiram algumas petições online contraditórias, quer com o intuito de os proibir de ir ao festival como, de os enaltecer e mostrar que tinham tanto direito de lá estar, como outro artista qualquer.

Contudo, desde o inicio que a escolha dos portugueses deu muito que falar. Houve quem achasse que já seria de esperar que não chegássemos à final pelo facto de o resto da Europa simplesmente não estar preparada para este tipo de performance.

No entanto há também quem tenha defendido que pelo menos mostrámos que a situação do País está a afectar todos os sectores e que, quem no estrangeiro estiver a par da situação económica e política do nosso País, só pode concordar que acabámos por ser coerentes em levar esta banda à Eurovisão.

No entanto, mesmo que a prestação na Alemanha não tenha sido a esperada por muitos e mesmo não tendo ganho, a verdade é que o refrão de “ a luta é alegria” não nos saiu do ouvido nos dias que se seguiram e, só por isso, Neto e Falâncio já nos animaram um pouco – “E traz o pão e traz o queijo e traz o vinho, e vem o velho e vem o novo e o menino, e traz o pão e traz o queijo e traz o vinho, e vem o velho e vem o novo e o menino, vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção.”

Os Homens da Luta já prometeram concorrer de novo à Eurovisão para o ano. E o povo pá? Será que vai novamente votar neles? Seja como for: Dá-lhe Falâncio!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O ontem e o hoje

No meu tempo nós, crianças, íamos brincar para a rua. Jogávamos à bola, à apanhada e às escondidas com os vizinhos da nossa idade. No meu tempo, fazíamos corridas de bicicleta e esfolávamos os joelhos a andar de patins.

No dia de todos os santos nós, crianças, juntávamo-nos todas e fazíamos corridas, saltávamos à fogueira e confraternizava-mos enquanto petiscávamos algo e discutíamos sobre quem saltava mais vezes à corda sem se atrapalhar.

No meu tempo nós, crianças, não tínhamos telemóveis e como tal, andávamos de porta em porta a solicitar aos vizinhos que viessem juntar-se a nós para dar inicio ao jogo do “mamã dá licença”.

Mas isto era no meu tempo, no tempo em que brincar era aprender. Hoje em dia é precisamente o inverso. Com as desgraças a que assistem diariamente, os pais esqueceram-se de que as brincadeiras dos mais novos, são instrumentos fundamentais de aprendizagem e adaptação a situações de cariz social, motor e emocional na vida adulta.

Contudo, não critico. O meu tempo já lá vai e nesse tempo, ainda não éramos reféns dos medos e das inseguranças dos nossos progenitores.

Talvez seja por isso que hoje, as crianças demonstrem uma preferência em ficar por casa a jogar na playstation e na wii, excluindo-se assim, cada vez mais do mundo exterior e, os joelhos que outrora se reconheceriam à distância pelos seus golpes e cicatrizes, hoje assumem um ar pálido e imaculado.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tamanho XL

As malas e as mulheres são quase as melhoras amigas (quase pois primeiramente existe o melhor amigo sapato). Contudo a maioria das mulheres não se contenta com a bela da pochete mas sim com a maior mala que encontra na loja.

Para nós, mulheres, o tamanho conta e é por isso que mala que é mala tem de ser o maior possível e claro, tem de ter a capacidade de acumular metade da nossa tralha (a que chamamos carinhosamente de “objectos úteis”).

A mala de uma mulher é um autêntico artefacto. Aos olhos de MacGyver tal quantidade de objectos representaria mais do que uma ajuda na invenção de uma bomba atómica.

Quem duvida disto é porque nunca se deu ao trabalho de espreitar para dentro de uma – são canetas, blocos, telemóvel, chaves, batons, pinças, perfume, maquilhagem, cremes, algumas peças de roupa, o belo do pensinho higiénico e claro, a carteira (também ela XL).

Alguns homens perguntam-se: “Porque é que elas andam sempre com malas tão grandes se depois demoram meia hora a encontrar uma simples chave?” Lamento desiludi-los mas confesso que essa deve ser uma das perguntas que nos fazemos mentalmente a nós próprias sempre que estamos a vasculhar a mala em busca de algo e nos vem parar às mãos tudo, menos aquilo que procuramos.

Contudo os homens vão-se questionando acerca de tal detalhe mas esquecem-se muitas vezes que é graças às malas XL que ainda temos espaço para lhes guardar a carteira, o telemóvel e as chaves.

Nós, mulheres, vivemos felizes desta forma - insistindo e argumentando a quem se atrever a duvidar do prático que é ter uma mala tamanho XL, esquecendo-nos constantemente que de nada nos serve ter todos os “objectos úteis” no seu interior se sempre que os pretendemos obter demoramos mais de meia hora até encontrá-los.

As coisas estão lá, é preciso é ter calma e saber procurá-las (dizemos para nós mesmas enquanto coramos com os nervos por querermos uma simples chave e nos vir parar à mão o telemóvel).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os operários da palavra ( carta de parabéns ao jornal "Correio do Ribatejo")

Já dizia o dramaturgo Arthur Miller que "um bom jornal é uma nação falando consigo mesma." De facto é graças ao jornal que temos uma noção do mundo que nos rodeia, uma vez que é ao mesmo que cabe a divulgação de coisas boas, coisas más e claro, de algumas curiosidades que sem o mesmo, jamais veríamos esclarecidas.

No tempo em que ainda não existiam jornais diários, reinava uma forma pré-moderna do mesmo – as folhas volantes. Estas dedicavam-se a um único tema e não a uma variedade de assuntos e não eram publicações regulares. Também não eram folhas de simples informação: os temas que abordavam eram, sobretudo, avisos moralistas ou interpretações religiosas. Assim, por volta de 1616 foi publicado um total de 25 folhas volantes. Um terço delas era dedicado a um tipo de acontecimentos: assassínios.

Ao longo do século XIII as publicações periódicas, como os jornais, eram dominadas pelo pólo político, sendo que os mesmos eram vistos como uma arma política até ao aparecimento da Penny Press na década de 30 no século XIX. Este tipo de imprensa passou a dar ênfase a notícias locais, reportagens sensacionalistas, escândalos, tragédias, etc. Na década de 70, cerca de 80% das notícias sobre assuntos nacionais eram sobre pessoas conhecidas (Presidente dos Estados Unidos, ministros, governantes).

Os jornais de hoje não diferem muito dos da época de 70. Felizmente ao longo dos séculos estes têm vindo a crescer e a mostrar o quanto são bens preciosos. Que o diga o Correio do Ribatejo que já vai com 120 anos e que sempre nos deu as notícias de forma concisa, directa e profissional. É graças a este que os leitores sabem o que se passa ao seu redor de maneira exímia e, penso que falo em nome de todos, quando digo que cá gostaríamos de estar mais 120 anos para podermos acompanhar este exemplo de bom profissionalismo.

Obrigada ao Correio do Ribatejo, por ser a prova viva do que foi dito em 1926, por um director de um jornal inglês: “Fundamentalmente, o jornalismo implica honestidade, clareza, coragem, justeza e um sentido do dever para com o leitor e a comunidade. O jornal tem necessariamente algo de monopólio e o seu ofício primeiro é a recolha de notícias. Sob pena de perder a alma, deve fazer que o fornecimento não seja manchado. Nem no que dá, nem no que não dá, nem no modo de apresentação, deve a límpida face da verdade sofrer qualquer mal.”

Feliz aniversário ao jornal e aos jornalistas que aí trabalham, por nunca terem deixado de ser os operários da palavra.

sábado, 2 de abril de 2011

Paulo Fut(u)re e o negócio da China

Já não se passava nada que prendesse a atenção do português a algum tempo e, como tal, nada melhor que numa semana só, termos o chamado “ dois em um”. Primeiro foi a demissão de Sócrates e logo de seguida, a hilariante conferência de imprensa dada por Paulo Futre - Director Desportivo de Dias Ferreira, candidato à Presidência do Sporting.

Era mesmo disto que estávamos a precisar! Depois da saída de Sócrates e de Portugal estar cada vez mais afundado e em vias de levar com o FMI, nada melhor que um pouco de comédia para animar a malta.

A conferência de Paulo Futre (ou deverei dizer: Future?) tem sido dos vídeos mais vistos no youtube e digo-vos já que, o que mais fica no ouvido são as seguintes declarações: "Nós não temos o Ronaldo, mas temos o Chinês!" e, “Virão charters com 400 ou 500 chineses para verem os jogos do clube”.

Em defesa de Futre podemos referir os clubes que vão à China (exemplo do Manchester e Barcelona) que recebem muito dinheiro não só pelo seu prestígio mas também pelas suas grandes vedetas, ou seja, nada tem a ver com a nacionalidade dos seus jogadores.

Depois da dita conferência de imprensa dada por Futre, não restam dúvidas de que o homem é um empreendedor! Eu própria admito vislumbrar um jogo do Sporting com 2 golos (no mínimo) marcados pelo chinês e o estádio de Alvalade a servir crepes no intervalo dos jogos!

O Dias Ferreira pode ser um homem muito conhecedor do futebol Português mas a sua candidatura estragou-se depois do “negócio da China” elaborado por Futre.

Ainda assim e, apesar do mesmo não ter ganho o lugar na presidência do clube leonino, não restam dúvidas que o projecto elaborado por Futre foi mais ambicioso que qualquer outra candidatura presidencial.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Fetiche masculino

Porque é que a maioria dos homens gosta de se fantasiar de mulher no carnaval?
Carnaval que é carnaval tem de ter homens mascarados de mulher. Nesse dia é vê-los de mini-saias, collants de vidro e até rendadas, sapatos de salto alto e claro, o belo do top a mostrar os pêlos do umbigo.

Tal fetiche masculino remonta-me para uma conversa que tive em tempos com um simpático taxista, que enquanto conversava comigo a propósito de (segundo ele), as miúdas de agora trocarem de companheiro como quem troca de meias, se sai com um: “Fazem elas bem! Eu cá se fosse mulher, era uma grande maluca”.

Ao ouvir isto, lembrei-me¬¬ das vezes em que já ouvi este tipo de palavras proferidas pelo sexo masculino – a tão famosa frase: “ se eu fosse mulher era uma grande maluca”.

Espanta-me que muitos dos homens que o digam, tenham filhas e no entanto não desejam que as mesmas partilhem de tal ideologia, não vá a maluquice pegar moda e as miúdas começarem a gostar.

Também me fascina o facto de, uma vez questionados, a maioria dos homens afirmar que não tenciona casar com as ditas malucas mas sim, com alguém mais respeitável e que dê para apresentar aos pais sem indícios de mínima represália.

Isto leva-me a pensar: Mau! Então se eles fossem mulheres eram umas grandes malucas mas, no entanto, sendo eles homens só querem as ditas malucas para dar umas voltinhas e não para uma vida a longo prazo?

Há algo aqui não bate certo. De qualquer forma, tranquiliza-me saber que estes fetiches não passam disso mesmo, ou então as “certinhas” com quem casar entrariam em vias de extinção.

domingo, 6 de março de 2011

Época de pré folia

Em plena rua de Santarém, são várias as crianças que desfilam exibindo as suas máscaras. Patos, tigres, os habituais palhaços, vikings e até mesmo polícias, são alguns dos disfarces que podem ser vistos enquanto estes palmo e meio de 3, 4 e 5 anos desfilam.

Embora ainda não seja o dia oficial de carnaval, no caso das escolas e jardins-de-infância este desfile de pré festividade anuncia-se sempre dias antes.
Há cor espalhada por todo o lado tornando a cidade num género de paleta de tons coloridos, disposta a alegrar o dia e as caras que curiosamente observam “os mascarados”.

A diversidade é tanta que torna-se difícil de admirar detalhadamente um só disfarce. Que o diga uma das educadoras de infância, que, apesar do seu ar cansado ainda arranja tempo e fôlego para organizar os seus meninos em pleno desfile. Ora recolhe um viking, ora chama um pato, ora volta a formar os pares, gritando para que todos façam o “comboio”. O grito é quase surdo, ou não fosse o facto de a algazarra atenuar qualquer outro tipo de som que não o dos apitos e cornetas carnavalescas.

Alzira Dias, uma das comerciais que observa o aparato, salienta que “ é uma graça ver estes pequenos tão felizes com algo que para nós é um simples desfile de carnaval”. Já António Matias, que observa o mesmo de um sítio mais recatado, ressalta que “ este desfile é uma tradição e é bom que esta não se perca”, apontando seguidamente orgulhoso para uma das crianças disfarçada de polícia e dizendo com os olhos brilhantes, “ é a minha netinha”.

Ao longo das ruas cada mascarado desfila deixando a sua imaginação fluir de acordo com o disfarce que exibe. Através dos variados disfarces, é perceptível que o viking faz questão de exibir a sua barba postiça, possivelmente achando que esta impõe respeito e medo ao adversário, o pato por sua vez emite o som característico enquanto marcha e os polícias tornam-se pequenas autoridades a brotarem do interior das suas fardas.

O desfile segue pelas ruas, havendo pausas para as tradicionais fotos. Finaliza em frente da Igreja da Graça, em pleno centro histórico da cidade. É aqui, que a vivacidade inicial dá lugar a birras, queixumes e vários danos na maioria dos disfarces. Um dos “patos” caminha agora sem o bico de cartolina que até aqui o caracterizava.

Sentado na escadaria da Igreja, de braços cruzados e avistando o vazio, está um dos vikings sem o seu chapéu. O motivo de tal sossego deve-se ao facto de ter sido repreendido pela sua educadora. Ao olharmos para o ar zangado da mesma é fácil perceber o motivo. Esta encontra-se com o chapéu do pequeno viking na mão, repleto de mazelas e sujidade.

Passados cinco minutos o pequeno, ainda de braços cruzados, altera a sua expressão e o seu amuo desaparece como que por magia. Levanta-se ao ver o sinal que a educadora lhe faz e depressa se junta ao seu par, para que todas as crianças ali presentes, se possam distribuir ao longo da escadaria e tirar a fotografia final.

Ainda a assumirem as suas posições de modo a que os pequenos mascarados se mantenham sossegados, estão as restantes educadoras e auxiliares, que demonstram bastante calma e paciência. Helena Dias que trabalha como educadora a apenas dois anos, comenta com uma das auxiliares que “ é sempre difícil manter estas crianças calmas e serenas, mas nestas épocas, o esforço para tal ainda é mais árduo”.

São vários os fotógrafos que cercam a Igreja. Cada um deles tenta a todo o custo encontrar o melhor ângulo para que a folia fique bem registada. Um dos destacados para eternizar tal momento, após ter descoberto o seu ângulo ideal, ainda tem tempo para voltar atrás e ir buscar um boné de polícia que voa da cabeça de uma das crianças.

Os flashes começam a ser disparados. Focam não só sorrisos de contentamento, como também algumas bocas abertas denunciando cansaço. E como Carnaval que é Carnaval não existe sem música, educadoras e crianças presenteiam Santarém cantarolando o seguinte, “ os três palhacinhos não querem fazer mal, só querem brincar porque é Carnaval”.

No final da actuação sucedem-se os aplausos que parecem não ter fim. É de entre este “público” que surgem avós, mães e pais comovidos com a prestação das suas pequenas estrelas.

A confusão e a multidão que ali se juntou começam a esmorecer a pouco e pouco. O largo da Igreja fica assim desimpedido e tudo volta ao normal. Restam somente as serpentinas e os balões para relembrar que o Carnaval está a chegar.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O dia dos encalhados

Quem inventou o dia dos namorados esqueceu-se dos encalhados. Também se esqueceu de como é irritante estarmos sozinhos e depararmo-nos com montras recheadas de corações, poemas românticos e promessas de amor.

Para todos os irados que já desejaram apedrejar as montras deste dia e para os mesmos que nesta mesma altura se barricam em casa a atacar os chocolates como forma de suprimirem as carências afectivas de que são vítimas, fiquem sabendo que a culpa é do Padre Valentim.
E perguntam vocês: quem? Ora aqui vai: Valentim foi um padre condenado à morte pelo facto de se ter casado em segredo.

Contudo, enquanto aguardava na prisão o cumprimento da sua sentença, apaixonou-se pela filha cega de um guarda e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão.
Antes de falecer (a 14 de Fevereiro), Valentim escreveu uma mensagem de despedida à sua amada, na qual assinava como “Seu Namorado”.

Ou seja, é graças ao Valentim que neste dia meloso muitas pessoas deprimem, sentem vontade de atacar qualquer casal de namorados que se aproxime e claro, emanam uma ira desmedida por tudo o que envolva corações e juras de amor.

Todavia, para os casais este dia não poderia ser melhor. Podem até brigar o ano inteiro mas, chegando esta data tão especial, é vê-los qual protótipo de casal perfeito e inabalável, por isso nem se lembram que o dia dos namorados pode ser imperfeito para os encalhados, afinal de contas, com a desgraçada dos outros estamos nós bem.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Simplicidade feminina

Há quem ache que as mulheres são complexas. Eu diria mais que por baixo da nossa suposta complexidade, existe uma simplicidade. Para vos mostrar o mesmo, coloco-vos a seguinte questão: porque é que nós (mulheres) abrirmos a boca de cada vez que metemos rímel nas pestanas?

Sabemos que toda a cara tem músculos e que sempre que espirramos fechamos os olhos. Porquê? Porque é este mesmo reflexo de os fechar que nos ajuda a proteger a zona lacrimal e vasos sanguíneos das bactérias expelidas no espirro. E no caso de abrirmos a boca sempre que pintamos os olhos? Porque será?

Para os leitores masculinos é óbvio que a resposta a tal acto involuntário seria: “Porque as mulheres nunca fecham a boca de maneira nenhuma!” Felizmente, para as leitoras é algo compreensível quando se é mulher (principalmente para aquelas que já deram consigo ao espelho a ponderarem: “Que raio, mas porque abro a boca sempre que pinto os olhos?”

A todas as que se têm vindo a questionar acerca disto, aqui vai a verdadeira resposta: abrindo a boca contraímos os músculos da cara, logo, os olhos ficam mais abertos (o que facilita a colocação do rímel).

É verdade amigas, é tão simples quanto isto! Lamento se desiludi aquelas que pensavam que a beleza ao espelho era tanta que até a boca se abria involuntariamente de espanto ou, aquelas que julgaram que a mesma se abria para aparar algum bocado de rimel sêco que caísse.

Quem disse que éramos complexas estava enganado. Afinal, a nossa suposta “complexidade feminina” aparentemente dificil de descodificar, uma vez bem estudada traduz-se numa simplicidade que só nós (mulheres) possuímos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rotulados

Quando escolhemos a nossa profissão, fazemo-lo por vários motivos: ou porque gostamos e é o que sempre sonhámos fazer, ou porque é o que dá dinheiro, ou porque é o que tem mais saída no mercado de trabalho.

Todavia esquecemo-nos que ao escolhermos o nosso futuro profissional, ficamos rotulados. Assim, o David mecânico será sempre mecânico e engane-se quem pensa que este tem folgas (isso é um mito).

Há profissões onde se torna complicado separar a pessoa (como um simples individuo) do seu trabalho diário. Que o diga o Manuel electricista que sempre que sai aos fins-de-semana, leva com um ou dois indivíduos que aproveitam para saber se a campainha lá de casa tem arranjo, ou a Ana, que amaldiçoa o dia em que tirou fisioterapia e que mesmo fora do local e horário de trabalho é contemplada com pedidos de massagens.

Quem também sofre com este tipo de situações é o Vasco, que como é consultor financeiro, leva com os amigos lá em casa a sondarem-no se há ou não hipóteses de obterem um crédito para aquela mota nova que tanto desejam.

Contudo, de todas as profissões sem folga, há um que se destaca e que não se consegue abstrair minimamente da profissão que escolheu, nem em dias de folga! O médico. Sabemos bem que médico que é médico não tem descanso.

Médico que é médico não se livra de sair para ir jantar fora e levar com um amigo ou conhecido, que entre o “Olá, como vai a vida?” se sai com um: “Oh Doutor, agora apareceram-me aqui umas dores na zona lombar. O que será? Que me aconselha?”

Porque será que nos é difícil focar somente na pessoa e esquecer o que esta faz? Porque será tão complicado conseguirmos falar com o José mecânico, sem aproveitar para saber quanto custam umas pastilhas novas para o carro?

Às vezes torna-se difícil perceber que tanto o Manuel electricista, como a Ana fisioterapeuta também têm as suas folgas e que, fora do horário de trabalho, tudo o que desejam é ser simplesmente eles próprios, sem conselhos sobre campainhas ou pedidos de massagens.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A síndrome do Tarzan

Todos temos em nós, um ser que grita, gesticula e pronuncia as palavras pausadamente sempre que se depara com alguém de outra nacionalidade.

É inato, senão vejamos o seguinte exemplo: Entramos numa loja Chinesa com o intuito de pedir uma carteira, dirigimo-nos ao empregado (por sua vez, Chinês) e o que fazemos?

a) Pedimos a dita carteira;

b) Olhamos para o Chinês e (aumentando o volume da voz) perguntamos: “tem car--tei-ras?”

c) Deduzimos à partida que o Chinês não sabe o que isso é e procuramos nós;

Por mais que muitas pessoas possam afirmar que escolheriam a alínea A ou C, a verdade é que todos sabemos que a resposta correcta seria a B. Todos nós já passámos por isso.

Todos nós já nos dirigimos a alguém de outra nacionalidade e, no caso de não dominarmos a sua língua, optamos por falar a nossa, mas mais pausadamente (não vá o estrangeiro ter alguma dificuldade de compreensão e assim ajudamo-lo falando o mais devagar possível), gritando (não vá ele ter algum problema de audição) e gesticulando (não vá o dito cujo desconhecer a leitura dos lábios e assim guia-se pelos gestos).

No fundo esperamos que quanto mais devagar conseguirmos pronunciar a palavra, mais probabilidades existam para que este a perceba com sucesso. E não é que ele percebe?
Percebe sim.

Percebe a figura de Tarzan que fazemos, pois tal como o próprio diria: “Eu Tarzan, tu Jane”, também nós nos reduzimos ao papel de um Tarzan moderno que ao ver-se perante outra “espécie” solta um: “Tu ter Carteiras?”

O facto mais curioso, é que quando vamos para fora do nosso País, não temos outra hipótese senão aprender a língua estrangeira. Ora bolas! Nós, que somos Portugueses tão simpáticos e que até nos damos ao trabalho de falar devagar e gesticular, descobrimos afinal, que lá fora não existe a síndrome do Tarzan. Afinal esta é “made in Portugal”.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Comando na mão e carrega no botão

Porque é que quando o nosso comando da televisão não está a funcionar bem, carregamos nos botões com mais força em vez de lhe mudarmos as pilhas?


Esta é uma questão que me tem vindo a assombrar e pior, é uma atitude a que tenho tido a oportunidade de assistir muitas vezes e da qual me rio desalmadamente ( é verdade, tenho um sentido de humor estranho).

É bastante comum tentarmos mudar de canal, ou aumentar o volume do nosso programa favorito e percebermos que o comando não está a funcionar correctamente. E o que fazemos nestas situações? Simples! Carregamos ainda com mais força nos botões (não vá haver algum mau contacto e a coisa até funcionar assim pela lei do aperto).

Eis uma atitude tão comum no ser humano e ao mesmo tempo tão caricata – o acto de carregar com força nos botões do comando e só depois pensar: “Que raio, às tantas é das pilhas”.

Não seria mais correcto pensar primeiro em mudar as pilhas em vez de espancarmos o comando em questão? Sim, seria (pensam vocês) e digo eu: seria, mas não teria a mesma piada.

Existe também quem opte por uma outra vertente geralmente designada como: “ pancadinha de amor” – acto de bater no comando na esperança de que possa surgir algum tipo de ligação miraculosa que nos auxilie a mudar de canal.

Temos de admitir que nós próprios temos a noção do quão ridículo estamos a ser, no entanto na altura ficamos de tal modo enfeitiçados pelo poder da caixinha mágica que nem nos lembramos da figura que fazemos (há quem chegue mesmo a ganhar um tom rosado de premir os botões com tanta força).

Há ainda quem conjugue estas duas vertentes e faça o denominado: “ prima e espanca” - além de bater no comando, a pessoa (já de tom rosado a pender para o avermelhado) continua não só a premir os botões, como a ter a capacidade de continuar com a tão famosa “pancadinha de amor”.

Já dizia o palhaço Batatinha: “comando na mão e carrega no botão!” (esqueceu-se foi de acrescentar que: “ um comando espancado, é um comando inutilizado”.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Latidos de esperança




A Apaac, uma Associação de Protecção dos Animais Abandonados do Cartaxo, criada a 14 de Maio de 1990, dedica-se à defesa e ao bem-estar dos animais abandonados, silenciando o mito segundo o qual todos os canis são lugares medonhos onde os animais, fechados numa jaula minúscula, esperam dias e dias por um dono que os libertará daquela prisão. Além da defesa e da preservação da vida animal, esta associação sem fins lucrativos promove o respeito pelos animais e desempenha também funções sociais no campo higieno-sanitário.

A recepção é feita por um porteiro de quatro patas, o Taso, um Doberman, em convalescença após uma terceira operação. Vários guias sorridentes dirigem-se às boxes, porém, são maioritariamente as crianças que se dedicam, voluntariamente, aos animais aqui hospedados.

A visita guiada é pautada pela amabilidade de todos os que aqui trabalham e pela docilidade dos animais bem tratados. Na área delimitada do canil, coabitam cães de várias raças, cores, sexo e tamanho. Os olhos que nos observam escondem uma desilusão, uma história triste, que todos aqui querem ajudar a esquecer, alimentando a esperança de que um dia serão felizes com uma nova família.

Ao conhecermos a área, deparamo-nos com Maria, uma voluntária da Apaac com apenas 10 anos de idade que, além da alimentação dos animais e da limpeza do canil, diz existirem outras tarefas: «ajudar em tratamentos, ajudar em campanhas de adopção, na angariação de donativos». Satisfeita por poder ajudar estes animais, Maria, entusiasmada com o seu trabalho conta-nos a história de Nina, uma das cadelas do abrigo da Apaac.

Já abandonada em tempos, fora adoptada por uma senhora do Cartaxo que vivia sozinha que lhe daria afecto e o conforto de um lar mas, após uma doença, essa senhora viria a falecer, deixando a Nina, mais uma vez, sozinha: «Há até quem diga que esta ficou estática no quarto da senhora, ficando presente ao lado da cama, como se tivesse esperança de que ela, a pessoa que a amou, voltasse de novo para junto de si».

A história da Maria é marcada pelos passos de outras crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos, que se juntam; cada uma desempenha a sua tarefa sem sequer perguntar o que é preciso fazer, pois, já todos sabem como as coisas funcionam.

Ao cair da noite, os guias de palmo e meio deslocam-se até ao secretariado onde, mais uma vez, são recebidos por um enorme gato siamês que rebola no chão como que a dar-lhes as boas-vindas. As saudações deste anfitrião são acompanhadas pelas do Presidente da Associação, Veladimiro Elvas, que, durante a visita às três salas do secretariado (gabinete, sala de reuniões e sala que serve de área de sensibilização), se prontificou a ajudar no que fosse necessário.

Explicou ainda que a Apaac recebe visitas de estudo e reúne grupos de crianças com o intuito de as sensibilizar na protecção dos animais. São visíveis inúmeros desenhos feitos pelas mesmas e alguns artigos de jornal. De todos os artigos e desenhos colados no placar, destaca-se um bastante simples, o desenho da “Rita” onde entre um cão e flores, se pode ler o seguinte: «Por favor não abandonem os animais, se não os querem, deixem-nos no canil».

Veladimiro acrescenta que «muitas das crianças que nos visitam, ficam tão sensibilizadas, que dias depois vêm cá voluntariar-se». E isso é um aspecto fundamental para a Apaac, que acredita que a chamada de atenção das crianças suscita a formação de adultos conscientes, e o reflexo do que Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, afirmara em tempos: «A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem».

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O verdadeiro animal

Quem não gosta de animais não pode ter bom carácter. Como é possível que não se goste daqueles que nos protegem, nos mimam e acima de tudo, que não nos julgam sempre que a vida não nos sorri?

Mahatma Gandhi proferiu um dia que “ a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais são tratados." Perante esta afirmação e tendo em conta o facto de cada vez existirem mais abandonos e maus tratos aos nossos amigos de quatro patas, eu diria que a nação (na sua maioria) tem estado um pouco desatenta no que toca ao tratamento dos mesmos.

Na realidade todo o sistema me parece desatento e adormecido no que diz respeito ao assunto da defesa dos animais. Não há leis que os protejam e as que existem (sejamos realistas) não funcionam. É por isso que cada vez mais defendo a ideia de que nem toda a gente deveria estar apto a ter um animal ao seu cuidado.

Aguardo ansiosamente pelo dia em que existirão penas bem pesadas a todos os que os maltratem, abandonem e os utilizem para fins menos próprios (como é o caso das lutas). Aguardo também pelo dia em que as pessoas terão que passar por testes psicológicos, antes de adoptarem um amigo para toda a vida.

De dia para dia aumentam os casos de abandonos, de maus tratos e até de muitos donos que levam o animal para o canil pelas suas próprias mãos e que, quando confrontados com o porquê de tal atitude, respondem simplesmente: “ Já não o quero”.

Cada vez mais as pessoas tomam os animais como objectos descartáveis, por algo que é muito engraçado em pequeno, mas que ao crescer começa a ocupar espaço, a comer mais e claro, deixa de ser uma graça para passar a ser um estorvo.

Lamento que estas pessoas não conheçam o caso da Nina, que permaneceu ao lado da cama da dona desde que esta adoeceu até que partiu, ou até do Golias, que mesmo depois de ter sido amarrado a uma árvore e deixado num pinhal pelo próprio dono, conseguiu aparecer à porta da sua casa meses depois e ainda teve a bondade de, depois de tudo o que este lhe fez, saltar para o seu colo, como que a perdoá-lo.

Finalizo então com a seguinte questão: quem são os verdadeiros “animais” aqui? Quem demonstra diariamente ser irracional e não padecer de remorsos? Não deveria o termo “animal” ser aplicado a nós, supostos humanos racionais, que nos desenvencilhamos destes seres só porque estes crescem de mais e passam a ser um estorvo para nós? Deixo ao vosso critério.